domingo

Fazes-me Falta - Inês Pedrosa

A verdade. Outro valor magno circulando como um sumptuoso iate vazio. Quantas vezes te menti para ser fiel à verdade do meu amor por ti. Ou do teu amor por mim, o que vai dar ao mesmo.

O último dos meus namorados, não foi por me ter cansado dele que o deixei. Foi porque se me esgotara a juventude, essa capacidade de acreditar absolutamente em tudo de novo a partir das cinzas, ele apaixonou-se mesmo por aquela jovem assistente de que tu suspeitavas. E ela alimentou-lhe a paixão. Queridíssimo. Eu tinha que ser forte para que tu não te preocupasses comigo. Eu tinha que ser forte para ser digna de ti - para te enervar, para te desconcertar, para merecer o teu amor por mim. Porque não lhe havemos de chamar amor?

Não importa o que se ama. Importa a matéria desse amor. As sucessivas camadas de vida que se atiram para dentro desse amor. As palavras são só um princípio - nem sequer o princípio. Porque no amor os princípios, os meios, os fins são apenas fragmentos de uma história que continua para lá dela, antes de depois do sangue breve de uma vida. Tudo serve a essa obsessão de verdade a que chamamos amor. O sujo, a luz, o áspero, o macio, a falha, a persistência. 


Inês Pedrosa



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