Guardo fretas na memória
Foi
o som das colheitas como que inventassem acordes
O
que novamente nos acordou. Em frestas
De
um corpo a caminhar em silêncio pelo outro lado,
Foi
o som o que nos acordou, outra vez dos passos
Pelo
vale industrial desabitado. Num imenso eco da vida profunda
Víamos
multidões onde não as havia, apenas rumores de bossa
Bolhas
de esgoto industrial, rio morto, boi morto
A
verdade sobre a verdade de um inseto que pousa
À
sombra da gaivota que num lampejo desaparece.
Nesses
dias os sons eram mais altos que a ilusão
Noutros, tinham a voz, como que pudesse alcançar um Deus
E
libertá-lo dos esgoto feito de ferrugens, para que dentro dos acordes
Outros
rangessem ruídos de inventar semeaduras.
* * *
Depois
Depois do instante que se queria eterno
Depois que a falta ganhou seu aprumo
de definição
Sonhar que ela seja um sopro
Que do coração solta a palavra
E a cima dela um tronco de ar
Destilado desafinada
Canção para depois
Daquilo que se quis eterno
Seja um instante para sempre
Na memória, o rio que corre sempre
Pelo contingente em veredas
É o possível do infinito laço
Da ponte do além.